Bonnie "Prince" Billy
No passado dia 5 de Junho, uma das mais belas salas de Lisboa, a Sociedade de Geografia de Lisboa, local de confluência das mais diversas culturas, foi ponto de encontro da cultura indie. Reunida para testemunhar o encontro de dois americanos, Bonnie "Prince" Billy e Emmett Kelly com uma norueguesa, Susanna Wallumrød, vocalista de Susanna and The Magical Orchestra. O pretexto, a apresentação do mais recente álbum de Will Oldham (que desde há mais de 10 anos se apresenta como Bonnie "Prince" Billy), "The Wonder Show of the World", gravado em conjunto com os Cairo Gang.
A primeira parte do concerto ficou a cargo de Susanna, numa espécie de interlúdio, a solo e ao piano, que no seu tom delico-doce mais contribuiu para o adormecimento dos presentes, do que aquecimento ao que se seguiria. Susanna, que segundo Bonnie, foi-lhe dada a conhecer por um amigo, dono de uma loja de discos em Lisboa, a "Ananana". Com a subida a palco de Emmett Kelly e Bonnie "Prince" Billy, excêntrico como só ele sabe ser, de calças laranjas, camisa azul e munido da sua melódica, a tensão aumenta. A sua teatralidade, a sua posse provocadora, o constante diálogo com o público não deixa ninguém indiferente. Ao piano de Susanna, junta-se agora a guitarra de Emmet. Mantém-se a toada acústica, pontuada aqui e ali por momentos de explosão. Sobressaí o jogo de vozes entre os três, a de Bonnie sempre presente, acompanhada ora por Susanna, ora por Emmett, ora por ambos. Deste jogo constante, resulta um ambiente mais próximo do country e da tradição do cancioneiro norte-americano, de que Bonnie é um dos principais herdeiros.
Antes da saída para o encore, uma versão de "Without You", tema celebrizado por Mariah Carey, que, se num primeiro momento poderia parecer deslocado do contexto e por isso caricato, não o foi. Esta é uma canção, onde a dor da perda e a morte, temas tão familiares ao universo de Bonnie, estão tão presentes. Original de 1970, da banda britânica Badfinger, tragicamente marcada pelo suicídio de ambos os compositores, Pete Ham e Tom Evans.
No regresso, a amplificação é desligada, deixando as vozes ao relento. Bonnie, de copo na mão, deambula em torno do palco como que brincando com a acústica do espaço. Pára, encosta-se a um poste e ali fica a observar os companheiros em palco, enquanto lhes vai lançando palavras, até desaparecer por uma porta e não mais voltar. Um concerto condicente com o espaço, que foi capaz de criar cumplicidade, de se tornar íntimo com o público.
Texto publicado na Revista Magnética de Julho.
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