Optimus Alive 2012




E chega ao fim mais uma edição do Optimus Alive 2012. Três dias de intenso corropio entre concertos, entre palcos, entre uma imensa multidão que se deslocou a Algés. Mais uma bem sucedida edição, que passou com distinção à enchente, não deixando, no entanto, de ser evidente que este espaço se começa a revelar pequeno, sobretudo no que ao palco secundário diz respeito.

Dia 13
Um primeiro dia marcado pelo regresso dos The Stone Roses, num misto de nostalgia e anacronismo. Muitos trintões entre o público a entoar os êxitos de uma carreira feita de apenas dois álbuns. E, ao vivo, as (in)capacidades vocais de Ian Brown são ainda mais evidentes. Muitos dos que na plateia entoavam músicas como ‘Love Spreads’ ou ‘She Bangs The Drums’ fariam com certeza melhor figura!

Os concertos da noite couberam a duas bandas que fazem da reinvenção da música étnica a sua marca. Santigold e Buraka Som Sistema deram concertos explosivos marcados pela energia e ritmo contagiante. Mas o momento alto, foi mesmo a invasão feminina durante o concerto dos Buraka, onde cerca de 50 meninas fizeram questão de corresponder com grande entrega ao desafio de “mexer o bumbum”. 

A fechar a noite, os Justice deram um espectáculo que é mais fogo de vista que outra coisa, em que mais não fazem do que “passar” música atrás de música sem grande interacção com o público. No entanto, a fórmula resulta e rapidamente o recinto se transformou numa gigantesca pista de dança.

Dia 14
A tarde de concertos do segundo dia não podia ter começado da melhor maneira, com a energia folk cativante de Lisa Hannigan a abrir as hostes do Palco Heineken. O duo Big Deal apresentou-se a seguir, mantendo a mesma ternura de guitarras que mais parecia pertencer a um palco intimista, entre quatro paredes, luz baixa e um copo de vinho. Os We Trust inauguraram o palco principal pouco depois das 19h, um testemunho surpreendente do que de melhor se faz em terras lusas, sem descurar as belas covers que se estenderam de Sade a Chemical Brothers. Os Noah and the Wale trouxeram consigo um folk e sonoridades alternativas salpicados de pop que transparecem na perfeição a voz inconfundível de Charlie Fink. Entretanto, os The Antlers sagraram-se os melhores protagonistas de um fim de tarde algo ventoso mas sempre soalheiro no palco secundário, deixando o vocalista Peter Siberman desferir alguns golpes de um falsete muito bem jogado e que é já apanágio dos seus trabalhos discográficos. Destaque ainda para Tricky que estilhaçou o palco Heineken juntamente com a voz penetrante de Franky Riley que, não sendo uma Topley-Bird, se manteve perfeitamente à altura de um animal de palco de muitos anos de carreira de trip-hop como o Tricky.

Os The Cure reveleram-se os verdadeiros reis da noite, apesar de não restarem grandes dúvidas disso mesmo até antes de todo o festival começar. A promessa das três horas de concerto ficou bem gravada na memória de todos os espectadores que fincaram pé no Palco Optimus e foi mesmo para cumprir. Robert Smith deu mais um pouco de si a este público que não esquece os inícios --- ou que está agora a saboreá-los ---, juntamente com a actual formação da banda: Simon Gallup no baixo, Roger O’Donnel nas teclas, Jason Cooper na bateria e Reeves Gabrels na guitarra. Após 36 canções, todas elas êxitos incontestáveis do longo, melancólico, emocional, sensível, romântico e misterioso repertório.
Do outro lado do recinto, o menino-prodígio da editora de música electrónica Ed Banger, SebastiAn, tornar-se-ia o responsável por um dos melhores momentos desse género no festival. A controvérsia e o cigarro sempre em punho acompanharam o live act, sem esquecer a menção imagética à bandeira portuguesa que instigou, de imediato, um aplauso colectivo.

Dia 15
Para o último dia, todas as atenções estavam viradas para o regresso dos Radiohead. Dez anos passados, como o próprio Thom Yorke referiu, «é muito tempo», e por isso a expectativa era grande. Num dia há muito esgotado, das 55 mil pessoas presentes poucas terão sido as que se sentiram desiludidas. Foi um concerto que correspondeu às expectativas e que reforçou a ideia de, na actualidade, os Radiohead se encontram num patamar partilhado por muito poucas bandas. Fica, sobretudo, a sensação de que são donos e senhores do seu destino. Fazem o que querem e lhes apetece, sem qualquer tipo de cedências e sendo, mesmo assim, capazes de agradar a multidões. Um espectáculo que teve o seu momento alto com ‘Paranoid Android’, do icónico OK Computer, não esquecendo o magnífico ‘Street Spirits (Fade Out)’ a terminar uma irrepreensível actuação de quase 2 horas.

A decepção da noite ficou a cargo dos Mazzy Star. Um concerto muito, muito morno, que um pouco à imagem dos The Stones Roses reforça a ideia de que há bandas e álbuns que apenas fazem sentido em determinado momento, em determinada época.

Mas se os Radiohead foram os reis da noite, os The Kills foram principescos. Verdadeiros cavaleiros do rock n’ roll, não deixaram os créditos por mãos alheias e corresponderam com um grande concerto, num regresso há muito aguardado. A dupla mais sexy do rock entrou a matar com ‘Now Wow’ para quase hora e meia de êxtase e muito suor, num misto de adrenalina e erotismo, com a fantástica Alison Mosshart sempre muito “provocadora”. Um alinhamento que passou por todos os álbuns da banda e que não deixou ninguém indiferente.

Referência ainda para os Metronomy que às 3:30 da manhã de um domingo, véspera de dia de trabalho, foram capazes de encher a tenda para um fim de festival em festa.

Por Gonçalo Durães e Soraia Martins.
Texto publicado na Revista Magnética.

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