Laurie Anderson - Homeland

Num mês dedicado às letras, a minha sugestão vai para "Homeland", o mais recente álbum de Laurie Anderson. Passados quase 10 anos sobre o seu último álbum de estúdio, "Life On A String", regressa agora com um álbum cujo tema central é a América. Tema recorrente na sua obra, serve mais uma vez de ponto de partida a um processo de análise e reflexão característico no seu modo de composição, resultando numa ideia de canção enquanto narrativa. Em cada música há uma história que é contada, assumindo Laurie Anderson o papel de narradora. 



Artista plástica de formação, Laurie Anderson desde muito cedo revelou especial interesse pela experimentação (p.ex. na criação de novos instrumentos e novas formas de registo áudio) e pela ideia de performance, na possibilidade que esta lhe dá de reunir, em simultâneo, diferentes tipos de media, como música, vídeo, escultura ou "storytelling". É essa experimentação performativa que percorre toda a sua obra e faz de Laurie Anderson uma artista ímpar. Em "Homeland" mantêm-se os mesmos princípios estruturantes, as electrónicas, os filtros vocais, o violino, aos quais se juntam nomes como os de Antony Hegarty, Lou Reed (seu companheiro de longa data) ou John Zorn. É um álbum onde as letras assumem um papel fundamental na criação dos elementos que dão vida às histórias, através das personagens e dos espaços por onde estas se movem. São as palavras, na sua forma falada, no modo como vocalmente são trabalhadas, na intensidade com que se projectam, que nos transmitem uma visão pessoal, um conjunto de reflexões sobre a América actual, que vão desde o mais banal dos quotidianos, à política.

Texto publicado na Revista Magnética de Setembro.

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