Ser ou não ser excelente

Li algures que quando se faz crítica devemos evitar adjectivações como excelente, correndo o risco do seu uso recorrente o tornar num adjectivo banal. Excelente é um adjectivo superior, único, cuja utilização deve apenas descrever algo de eleição. Um crítico espera-se também, que seja imparcial, diz-se! Não o serei. Afirmo sem hesitações, os Menomena são excelentes e o seu mais recente álbum "Mines" é também ele, excelente. Faço-o com plena consciência do que representa a utilização de tão incomparável adjectivo e de quão demonstrativo pode ser de uma paixão, que em última análise, será sempre pessoal.

Não me recordo quando e como os descobri. Lembro-me que faz já alguns anos, talvez por alturas do lançamento do terceiro álbum, "Friend And Foe", em inícios de 2007, talvez antes. Não me recordo do contexto, se foi uma música que me chamou a atenção, se um texto que li sobre eles ou um vídeo. Recordo-me, isso sim, de ter sido amor à primeira audição, daquele que se entranha e vai crescendo dentro de nós.

É no entanto, estranho que numa época em que a informação se propaga à velocidade da luz, os Menomena continuem a ser desconhecidos para muitos. É difícil entender como não são ainda a maior banda do mundo (este claro, é o meu lado emocional de ouvinte a sobrepor-se ao racional, de crítico). É contudo, algo que até me agrada! Pode parecer pretensioso mas é uma sensação de posse, como se fossem algo só meu, que partilho com poucos. É um sentimento ambíguo porque, ao mesmo tempo, sinto a necessidade de os partilhar com vocês todos, porque afinal, eles são bons demais para permanecerem desconhecidos.

Mas passemos às apresentações, os Menomena são de Portland nos Estados Unidos. Existem como banda há quase uma década e dela fazem parte Brent Knopf, Justin Harris e Danny Seim. Começaram como projecto paralelo dos Lackthereof , projecto a solo de Danny Seim, contudo com o passar do tempo, os Menomena acabaram por se assumir como o projecto principal. Todos são simultaneamente vocalistas, compositores e multi-instrumentistas. A formação actual conta ainda com a participação do guitarrista dos 31 knots, Joe Haege.

É um cliché mas é verdade, a música dos Menomena primeiro estranha-se e depois entranha-se. Com uma sonoridade a fazer lembrar por vezes uns TV On The Radio mais aprumadinhos, estranham-se sobretudo pela complexidade melódica. Cada música parece conter dentro de si um série infinita de outras músicas. A diversidade de instrumentos e sons utilizados na construção de cada música é impressionante (destaque para o saxofone). É como um puzzle onde cada peça encaixa na perfeição. O jogo de vozes é sublime e contribui em muito para o som peculiar dos Menomena.

Os Menomena são únicos e são excelentes (não me canso de o dizer), e só por isso vale a pena descobri-los.

Texto publicado na Revista Magnética de Outubro.

Fica aqui a actuação ao vivo de "Five Litlle Rooms", do mais recente álbum Mines, para a KEXP radio.



Deixo-vos também a deliciosa actuação nas ruas de Paris de "Wet And Rusting" para a La Blogotheque.

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