Ty Segall

Não sei onde andava com a cabeça, a verdade é que só ao 3º álbum Ty Segall me despertou a atenção. Encontrei-o perdido numa qualquer lista de álbuns que passaram ao lado das listas de melhores do ano. Não era só eu que andava distraído, porque MELTED devia figurar entre os melhores do ano que passou.

Ex-guitarrista dos Sic Alps, desde que se estreou a solo em 2008 não mais parou. Depois de um primeiro álbum homónimo, editou ao ritmo de um por ano, LEMONS em 2009 e MELTED em 2010. Ty Segall é mais um produto da costa oeste dos Estados Unidos, de S. Francisco, a juntar a nomes como Wavves, Thee Oh Shees, Best Coast ou Warpaint, que tem vindo a contribuir para a definição de um som particular da costa da Califórnia.

Nos primeiros álbuns são claras as influências blues, expressas num revivalismo garage-rock, em que somos atingidos por acordes repetidos até à exaustão numa explosão de ritmo, uma energia que nos atravessa as veias do primeiro ao último segundo. É um verdadeiro one-man-show, recorrendo apenas à guitarra, bateria e pandeireta.

Se em LEMONS já se faziam notar as diferenças na composição, mais sofisticada mas mantendo a sua simplicidade, no mais recente álbum esse refinamento é ainda mais apurado consequência de uma variedade de arranjos e de um tratamento melódico mais evoluídos e graças também à utilização de uma maior diversidade de instrumentos para além da guitarra que, todavia, mantém o papel principal. É sobretudo um álbum mais adulto onde a irreverência e a inconsciência próprias da juventude foram superadas, evidenciando uma maturidade conquistada com o passar dos anos. É um álbum mais cerebral e menos musculado, em que o esforço é mais doseado, que não vai com tanta sede ao pote. Como quando chegados à praia depois de um dia de intensa azáfama, começamos a sentir o tempo correr com outra cadência, a adrenalina que nos corre nas veias a abrandar até atingirmos um estado de relaxamento em que todas as preocupações ficam por momentos esquecidas. É um refrear inevitável, porque por muito resistentes que sejamos, é impossível aguentar tanta energia.

Texto publicado na Revista Magnética de Março.

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