Sufjan Stevens - Coliseu dos Recreios
Afinal o primeiro viajante espacial português não foi quem se julgava ser, foram, sim, todos aqueles que estiveram no passado dia 31 "a bordo" da nave do Coliseu dos Recreios. A nave, como o próprio lhe chamou, foi o cenário de uma verdadeira odisseia espacial que nos levou desde as origens do cosmos, com Sufjan Stevens ao comando das operações e sempre bem apoiado pela sua tripulação. Foi uma viagem de quase duas horas e meia sem percalços pelo caminho. Com uma máquina muito bem oleada deram um concerto espantoso, que fica desde já como um dos melhores do ano.Depois do mais recente álbum, THE AGE OF ADZ, ter assinalado uma viragem na sonoridade de Sufjan Stevens, que, como fez questão de explicar, aconteceu pela necessidade de experimentar, de encontrar novas soluções que passaram sobretudo pela exploração de novas tecnologias, mais viradas para as electrónicas em contra-ponto com a simplicidade e sobriedade da sonoridade mais folk que o caracterizava. Não pretendia simplesmente a experimentação pela experimentação, algo puramente conceptual, mas sim aplicá-lo a uma sonoridade pop. E foi numa fantástica viagem sob a forma de concerto que nos foram revelados os novos caminhos que marcam a música pop.
Uma das principais referências na nova abordagem foi Royal Robertson, ao qual dedicou o épico IMPOSSIBLE NOTHING. Artista americano, autoproclamado profeta, cujo imaginário serviu de influência ao universo criado e materializado nos fatos fluorescentes, nos adereços, nas coreografias, nas projecções e jogos de luzes. Com uma banda de onze elementos em palco, duas baterias que pareciam dois motores, uma secção de sopros a funcionar como um turbo. Duas bailarinas que, quais assistentes de bordo, iam dando, com as suas coreografias primitivas quase infantis, as indicações de segurança. Uma qualidade de som imaculada, explorando ao máximo a acústica da sala, é um espectáculo com pés e cabeça, muito bem idealizado e melhor concretizado, com as músicas a apresentarem novos arranjos e a ganharem uma dimensão extra-sensorial, um espectáculo hipnótico, pontilhado de sons qual via láctea por onde viajámos ao longo de duas horas.
Um dos momentos altos foi VESUVIUS a sugerir uma descida aos infernos. E mesmo antes do regresso para o encore, IMPOSSIBLE NOTHING, num final verdadeiramente apoteótico, com o som a ser levado aos limites transformando-se em ruído, a lembrar o lançamento de um vaivém e que pôs o Coliseu literalmente aos saltos. E se durante a primeira parte THE AGE OF ADZ foi a estrela maior, com o encore chegou o momento da aterragem e o regresso à terra, recordando os álbuns passados. Foi uma aterragem perfeita com o esperado anúncio da chegada a CHICAGO.
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