Indiemusic - O Rescaldo
A 9ª edição do Festival IndieLisboa, como em anos anteriores, contemplou na sua programação uma secção dedicada à música, intitulada IndieMusic. Constituída por mais de uma dezena de filmes, a programação deste ano, dominada pelo universo pop/rock, apresentou uma variedade de filmes que, no seu conjunto, nos dão uma curiosa perspectiva sobre os últimos 30/40 anos da música rock. Desde Neil Young a Adam Green, passando por Andrew Bird ou pelos Sigur Rós, passado, presente e futuro estiveram lado a lado, sendo interessante observar como os de outrora ainda influenciam os de agora, e como a sociedade, na sua natural evolução ao longo dos tempos, se reflecte na produção musical e vice-versa.
“Wild Thing” é um excelente documento sobre a história do rock dos últimos 50 anos. Realizado pelo francês Jérôme de Missolz, mostra uma visão bastante pessoal da sua relação com a música rock numa viagem cronológica ao longo de cinco décadas, onde cruza as suas memórias com os próprios protagonistas através de entrevistas e de uma excelente recolha de imagens de arquivo, sobretudo actuações ao vivo. Dá-nos um retrato muito abrangente e completo, que não deixa de fora nenhuma das bandas que marcaram a história do rock.
“How To Act Bad” acompanha Adam Green ao longo de dois anos, dando-nos a conhecer um dos actuais bad boys do rock. Realizado por Dima Dubson, amigo de Adam, o filme mostra-nos “de perto” os devaneios do cantor, que vive à letra o lema sexo, drogas e rock n’ roll.
“Grandma Lo-fi” é um dos documentários mais curiosos presentes na programação. Revela-nos a história de Sigrídur Níelsdóttir, uma dinamarquesa a residir na Islândia que aos 70 anos de idade descobriu que, com muito poucos recursos, conseguia criar e gravar em casa todo o tipo de sons, e que num período de sete anos gravou um total de 59 álbuns, tornando-se uma figura de culto e uma inspiração para muitos dos actuais nomes da música islandesa. É enternecedora a sua ingenuidade e autenticidade, aspecto bem explorado pela tripla de realizadores na montagem do documentário, conseguindo criar um forte sentimento de empatia com o espectador.
“Andrew Bird: Fever Year” foca sobretudo o cantor em palco. Mais do que o processo criativo, o que aqui interessa é o período que o intermeia, os concertos, a intensa tournée que o vai esgotando fisicamente, mas que na realidade é onde o seu universo se concretiza e onde ele se sente bem. É interessante ver a dedicação de Andrew para com o público, em dar um espectáculo ao vivo que seja mais do que a mera interpretação de um álbum.
A música portuguesa não foi esquecida, com “A Estrada para Mazgani”, curta realizada pelo crítico de cinema Rui Pedro Tendinha, e “Meu Querido Amigo Chico” a marcarem presença.
Os referidos filmes partilham de um modelo comum na forma como se propõem a transpor a música para o grande ecrã, composto sobretudo de entrevistas intercaladas com registos de palco e bastidores. O seu interesse, mais do que na música enquanto sonoridade, está na perspectiva que nos dão além música, mais focados no processo do que no resultado. O foco principal são os seus intervenientes, testemunhados enquanto pessoas, com todos os seus defeitos e qualidades, os seus dramas e alegrias. Uma visão diferente e que nos ajuda a contextualizar e a compreender a música que normalmente estamos habituados a ouvir e não a “ver”.
"Wild Thing" de Jérôme de Missolz
Texto publicado na Revista Magnética.
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