Warm-Up Vodafone Paredes de Coura
A primeira vez que fui a Paredes de Coura foi em 1998, tinha na altura 16 ou 17 anos. Olhando para trás parece tão longínquo mas ao mesmo tempo tão próximo. Desde então foram poucos os anos que falhei uma edição do festival. E, se não fui, foi sempre por motivos de força maior. As histórias são infindáveis e ficarão para sempre na memória. Quando se compara Paredes de Coura aos restantes festivais, o comentário mais comum é de que é especial, de que é difícil explicar o porquê, que só indo. E é verdade, o Festival de Paredes de Coura é especial, as razões são inúmeras e não me cabe a mim enumerá-las, tem de ser cada um a comprová-las por si mesmo. A mim só me resta, vão! Garanto-vos, vão querer voltar!
E como um ano pode ser demasiado tempo, a organização resolveu criar um evento preparatório a que chamou Warm-Up Paredes de Coura. Um cartaz atractivo e preços bastante acessíveis fizeram esgotar uma sala/tenda que, ainda assim, tinha capacidade para mais umas centenas de pessoas, bem no centro da cidade do Porto. E nunca a expressão aquecimento encaixou tão bem, porque foi disso mesmo que se tratou, um aquecimento. Sempre numa toada morna, sem grandes excitações, ouve, contudo, momentos em que cheirou a festival, no moche com os No Age ou no baile em que se tornou o concerto de Omar Souleyman, mas ficou sempre a sensação de faltar algo. É certo que ainda estamos em Abril e que a Praça D. João I não é o anfiteatro natural de Paredes de Coura, mas ainda assim, o público demorou a entrar no espírito. Mas cumpriu o propósito, sem dúvida. Agora resta-nos aguardar por Agosto.
Os Capitão Fausto deram início às festividades, para logo de seguida os britânicos Veronica Falls, trazerem a palco o relato adolescente das ansiedades e dilemas quotidianos ao som de guitarras alegres e jogos de vozes cúmplices. São músicas que nos fazem esboçar um sorriso e esquecer por instantes as preocupações. Na bagagem, o mais recente álbum, “Waiting For Something To Happen”. Os senhores que se seguiram, e senhores aqui é a palavra certa, os anos que levam nestas andanças dá-lhes esse estatuto, foram os The Wedding Present, a fazer reviver o indie rock da década de 90.
Coube aos Everything Everything animar as hostes, até então meio adormecidas. Com um ritmo frenético e um uso, por vezes excessivo, do falsete, foram capazes de por o publico a mexer. O mote foi dado pelo contagiante ‘Cough Cough’, single de apresentação do mais recente “Arc”. A receita não é nova mas é eficaz, pop electrónica temperada por ritmos fortes. Voltam daqui a poucos meses para repetir a dose, mas agora no idílico cenário da praia fluvial do Tabuão.
A terminar o primeiro dia de Warm-Up, os No Age, que ainda há 2 anos em Paredes de Coura, deram um dos melhores concertos do festival. Com esse concerto ainda na memória, iam quase deitando tudo a perder com um início marcado por altos e baixos. Prejudicados pela qualidade do som e pela insistência em músicas novas tocadas num formato que não lhes é natural (o formato guitarra e bateria é bem mais eficaz e explosivo), só aos primeiros acordes de ‘Fever Dreaming’ conseguiram agarrar o público e daí para a frente foi sempre a partir loiça!
No segundo e último dia, as guitarras não foram tão dominantes, permitindo às sonoridades mais electrónicas ter os seus momentos de glória. Coube aos portugueses Sensible Soccer as honras de abertura, que através das electrónicas instrumentais abriram caminho às angelicais Stealing Sheep, que, vindas de Liverpool, foram capazes de suscitar a curiosidade de muitos dos presentes com as suas melodias fantasiosas, aqui e ali fazerem lembrar as Coco Rosie.
Os Linda Martini dispensam apresentações e gozam, por estes dias, de um estatuto que têm vindo a consolidar ao longo dos últimos anos, graças não só à qualidade da sua música, como também, a actuações plenas de intensidade. A empatia com o público é enorme e temas como ‘Amor Combate’, ‘Dá-me a Tua Melhor Faca’ ou ‘Mulher a Dias’ foram cantados a uma só voz, numa união perfeita. Qual cereja no topo do bolo, ainda houve direito a música nova, que fará parte do alinhamento do álbum a editar no final do ano.
De seguida, de Portugal viajámos até à Síria, qual tenda montada no meio do deserto, transformada em salão de baile de casamento. Omar Souleyman, fenómeno surgido da World Music, com uma discografia oficiosa de mais de 500 álbuns, é conhecido por ter começado nestas lides a actuar em casamentos. Em palco apenas dois órgãos e a figura peculiar de Omar são suficientes para fazer a festa que usa e abusa da música de dança ocidental e das tradições árabes como condimentos principais. O caricato trata do resto!
Lee Ranaldo trouxe as guitarras de volta ao palco. Depois da passagem pelo Primavera Sound, voltou ao Porto mais uma vez para apresentar “Between the Times and the Tides”. Apesar de concentrado a 100% na sua Lee Renaldo Band, os Sonic Youth são presença constante, embora as músicas revelem um lado menos sónico. Não sendo uma alternativa à falta de novidades sobre os Sonic Youth, serve para matar o desejo.
No vai e vem constante entre guitarras e electrónicas, coube a Matias Aguayo, num misto de DJ set e live encerrar os dois dias de preparação para o que todos esperam seja uma grande edição do Festival Paredes de Coura. Só faltam 4 meses e passam num instante!
Texto publicado na Revista Magnética.
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