Andrew Bird - Aula Magna
Andrew Bird não tem o carisma de uma estrela pop, mas passa uma imagem de sinceridade e insegurança que torna fácil gostar-se dele, porque facilmente nos identificamos com a pessoa. Não existe a tentativa de passar uma imagem daquilo que não é, de criar uma personagem. Expõe-se totalmente perante o público com tudo o que isso tem de bom e de mau.
Quando há uns meses vi «Andrew Bird: Fever Year» no IndieLisboa, fiquei com imensa vontade de o ver ao vivo. A ideia de alguém humano como nós, que partilha das mesmas dúvidas e dramas existenciais, só nos aproxima da pessoa. E depois ainda temos a música, a genialidade de um exímio compositor e contador de histórias.
O concerto da Aula Magna foi mais uma etapa na relação próxima e cada vez mais consolidada com Portugal. Num regresso saudado, numa sala ansiosa que, não estando esgotada, foi pequena para o que ali se passou durante duas horas. Pequena para a dimensão estratosférica de que ali se assistiu, do que ali se partilhou. O público, muito dele recorrente, percebia-se pelas conversas de corredor, estava à partida conquistado e ali pelo puro prazer, consciente do que o esperava.
Relativamente a concertos anteriores em Portugal, para além do álbum novo na bagagem, para o concerto da Aula Magna, Andrew Bird trouxe a sua banda. Com banda as músicas tornam-se mais ricas e completas, e embora se perca alguma intimidade, ganha-se intensidade. No entanto, o concerto começou com Andrew Bird em palco sozinho, a pegar no seu violino e a encantar desde o primeiro acorde. É magnífico o domínio perfeito e exploração do instrumento, sempre tão bem acompanhado pelo característico assobio, tão rico e único. Os três primeiros temas foram a solo, com a restante banda a juntar-se para o excelente ‘Desperation Breeds’. A partir daí foi uma viagem por toda a discografia, passando inclusive por temas mais antigos e algumas covers, como ‘When That Helicopter Comes’ dos The Handsome Family, em versão acústica «striped to the bone» à volta do «old microfone»! Com um som irrepreensível, foram vários os momentos altos ao longo da actuação, marcada pelo “peso” da tradição da canção norte-americana como no clássico ‘Railroad Bill’. E mesmo quando as falhas surgiram e foi preciso recomeçar uma música duas e três vezes, ninguém levou a mal, porque é uma imperfeição assumida, humana, que só acontece a quem arrisca! Para o final ficou ‘Fake Palindromes’, um quase hino, final perfeito para uma noite perfeita. Na crítica que fiz ao documentário «Andrew Bird: Fever Year» referi na altura, «É interessante ver a dedicação de Andrew para com o público, em dar um espectáculo ao vivo que seja mais do que a mera interpretação de um álbum». Hoje, para além da confirmação, posso acrescentar que somada a essa dedicação ressalta um espectáculo verdadeiro, sincero, onde é clara a necessidade de dar prazer a quem ali está para o receber, e sempre feito de forma incondicional, pedindo pouco em troca.
Texto publicado na Revista Magnética.
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