Voltar a Paredes de Coura - Parte 2


O quarto dia ficou marcado por actuações menos convincentes e que fizeram deste o dia mais fraco de todo o festival. A noite até começou bem, com os dinamarqueses Iceage, fenómeno da actualidade punk, a darem um concerto pleno de revolta imberbe. Com dois álbuns muito bons, ‘New Brigade’ e o mais recente ‘You’re Nothing’ (editado pela Matador Records), as músicas foram recebidas por um público ávido de confronto físico (no bom sentido) que durante quase uma hora levou a prática do moche aos limites do razoável. Os Iceage são uns miúdos. Apesar de a posse ambicionar a mais, a fisionomia não engana. O cliché dos putos deprimidos que passam horas fechados no quarto a ouvir música em altos berros, revoltados contra a tudo e contra todos, até lhes assenta bem. As músicas são gritadas até à exaustão, como que a quererem fazer-se ouvir ao mundo. Pode ser isso mas também podem ser só um grupo de miúdos precoces a fazer música do caraças! “You’re Blessed” e “Ecstasy” a terminar foram absolutamente demolidoras.

Seguiram-se os The Horrors. A banda britânica tem vindo ao longo dos anos a construir uma carreira de reconhecido valor, confirmado a cada álbum. A sua discografia tem sido reflexo de uma evolução sonora que tem o seu mais recente episódio em ‘Skying’. Se é verdade que essa evolução se tem reflectido num acréscimo de qualidade em termos de composição e produção, a banda tem vindo a perder alguma da imprevisibilidade e crueza rock que definia “Strange House”, o primeiro álbum. Os sintetizadores ganharam preponderância sobre os demais instrumentos, tornando as músicas mais estratosféricas e menos acutilantes. Com isso perderam também algum fulgor ao vivo. Se tecnicamente são irrepreensíveis, falta-lhes alguma intensidade na transposição dos temas em palco, são demasiado contidos. Contudo, não deixou de ser um bom concerto.  

Aos Echo & The Bunnymen coube a inglória tarefa de substituir os The Kills. E embora a alteração fosse conhecida há já algum tempo, revelou-se um erro de casting. A banda liderada por Ian McCulloch (sempre de óculos escuros) teve o seu auge nas décadas de 80 e 90 e surgiu em Coura completamente desfasada. Um público demasiado jovem para conhecer a obra dos Echo & The Bunnymen não foi capaz de se mostrar interessado pelo que se passava em palco. Sejamos justos, a banda também pouco fez por conquistar a atenção. Nem temas como “Killing Moon” ou “Lips Like Sugar” foram capazes de animar as hostes. Os momentos altos, por estranho que pareça, pertenceram a versões de outras bandas, com “Roadhouse Blues” dos The Doors e “Take a Walk On The Wild Side” de Lou Reed. Um concerto demasiado morno para o que se exigia. E se na noite anterior tínhamos sido tomados pela surpresa, nesta noite foi a letargia a tomar conta de nós.

Para finalizar a noite, os Simian Mobile Disco pouco vieram acrescentar e foram incapazes de alterar o estado de apatia generalizado. Apesar das electrónicas apelarem à dança massiva, foi um público amorfo que se arrastou em frente do palco ao som da batida.

Texto publicado na Revista Magnética.
Foto © Hugo Lima

0 comments: